O CONHECIMENTO NO SER DO HOMEM



Criado à “imagem e semelhança” de Deus, o homem é dotado com a faculdade de “conhecer”. É essa faculdade que proporciona ao ser humano a capacidade de, não apenas, compreender a si e o mundo, mas também de contemplar e adorar seu Criador. Ou seja, é pelo conhecimento que o homem se percebe existindo e alcança o verdadeiro sentido da vida. No início, segundo a sagrada Escritura, ele era dotado de excepcionais conhecimentos sobre si, sobre o mundo e sobre Deus (Gênesis 1.26,28; 3.8-13). 

Com a Queda, porém, o homem teve seu arcabouço cognitivo gravemente avariado. Ele se perdeu de si e de Deus. Agora, um trovão, um raio lhe causam medo. Não conhece mais a si: não sabe de onde veio, para onde vai e a razão de sua existência no mundo. Não conhece mais o mundo: o mar o assusta e a imensidão do universo o espanta. Não conhece mais a Deus: em seu íntimo, pensa que não há Deus ou adora, como deuses, elementos da criação.

Após o primeiro pecado, o ser humano mergulhou na ignorância. Platão (428-347a.C.), o importante filósofo grego, em seu texto Teeteto, que trata, exatamente, sobre a questão do conhecimento, fala que o Sol gira em torno da Terra[1]. Como esse estudioso cometeu tal equívoco? Está claro que ele fez tal pronunciamento, simplesmente, porque esse era um dado da ciência de sua época. Aqui, observa-se que ciência humana tem sua relevância, mas ela é limitada, incompleta, imperfeita, parcial e contém generalizações duvidosas.

Gaston Bachelard (1884 - 1962), francês, filósofo da ciência, em seu Ensaio Sobre O Conhecimento Aproximado, afirma que “o ato do conhecimento não é um ato pleno” e que é preciso “adotar como postulado da epistemologia o caráter sempre inacabado do conhecimento”. Para ele, “no que se refere à natureza, nunca se chega à generalização completa e definitiva” e o erro “obriga a nos contentarmos com aproximações”[2].

Bachelard entende que, na busca da “verdade” científica, às vezes “o método de busca transforma-se num método de construção e o conhecimento se apresenta necessariamente acabado”[3]. Veja o caso do modelo geocêntrico, citado por Platão. Os estudiosos que o formularam, observavam os movimentos do Sol, todos os dias.  Considerando, então, apenas essa pequena janela do grande fenômeno dos movimentos dos corpos celestes, deduziram a “verdade” científica de que o Sol gira em torno da Terra.

Desse modo, em vista do incomensurável espectro de dados constitutivos da Criação, a ciência humana pouco representa, pouco sabe. A Queda tornou o homem incapaz de chegar ao conhecimento pleno. Ele sempre enxerga parte e não todo o fenômeno. De acordo com Kant, importante filósofo alemão, “o homem não é capaz de um conhecimento absoluto… não conhece o objeto como ele é em si mesmo, como coisa em si, mas apenas como ele se manifesta, aparece, ou seja , como fenômeno” [4].

Isso explica o fato das imagens produzidas pelo telescópio James Webb, lançado ao espaço, em dezembro de 2022, não confirmarem os modelos cosmológicos atuais e a teoria do Big Bang, que postula uma evolução do cosmo a partir de uma grande explosão, ocorrida há 13,9 bilhões de anos. Ao contrário do que se esperava, as imagens captadas revelaram um universo pronto, logo no seu início. Elas mostram, no tempo primordial, todo tipo de estruturas astronômica: galáxias de diversos tipos, quasares, regiões de gases quentes, buracos negros…

Ficou evidente que tal “verdade” científica não corresponde à realidade concreta do universo. No entanto, tal “conhecimento” era ensinado nas escolas como um “conhecimento acabado”, usando, aqui, as palavras de Bachelard. O mesmo é feito com a teoria da evolução do homem, com a teoria que afirma que a vida vem de uma evolução da matéria no tempo e com as teorias ateísta e materialista, que negam a existência de Deus, sem provas científicas, o que requer que elas sejam aceitas por um puro ato de fé.  

Mas o homem, ao voltar-se para Deus e ao recebê-lo como seu Senhor e Salvador, por meio da fé no sacrifício do Filho, Jesus Cristo, volta a adquirir o conhecimento original que tinha antes da Queda. Mas esse conhecimento, porém, devido à condição humana atual, manifesta-se, ainda, de um modo pouco nítido. Veja o que disse Paulo: “Agora, pois vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face à face. Agora conheço em parte, então, conhecerei plenamente” (1Coríntios 13.12). 

Contudo, mesmo não sendo na expressão plena, o ser humano volta a compreender a verdade sobre si, vendo-se, agora, como filho de Deus e com origem, não em uma evolução, mas em Deus. O mistério do mundo se dissipa, pois, agora pela fé, ele entende que o universo e tudo que nele há são obras do Criador. E sobre Deus, o mais sublime dos conhecimentos, ele volta a conhecer, não de ouvir falar, mas de sentí-lo em seu ser por meio do Espírito e de sua obra no interior do homem. 

Seja como for, a verdade é que o retorno do homem a Deus restaura sua faculdade de conhecer. O Apóstolo Paulo, fala sobre essa questão ao escrever aos Colossenses e os estimula a “conhecerem plenamente o mistério de Deus, a saber, Cristo. Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (2.2,3). Para esse Apóstolo, o cristão, em seu relacionamento com Cristo, “está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador” (3.10). De modo que, quando na glória do Reino eterno de Deus , o homem conhecerá as coisas como elas, realmente, são.

Antônio Maia - Ph.B. - M.Div.

Direitos autorais reservados 

[1] PLATÃO, Obras Completas. Teeteto. Amazon.com.br. São Paulo. p. 657.

[2] BACHELARD, Gaston. Ensaio Sobre o Conhecimento Aproximado. Contraponto Editora

      limitda. Rio de Janeiro, 2015. p. 154. 

[3] BACHELARD, Gaston. Ensaio Sobre o Conhecimento Aproximado. Contraponto Editora

      limitda. Rio de Janeiro, 2015. p. 153. 

[4] KRASTANOV, Stefan Vasilev. Metafísica II. Batatais: Claretiano 2004.



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