JESUS, INCOMPREENDIDO. PARTE I
Os evangelhos mostram que até os
discípulos de Jesus, de início, não o compreendiam. Ele era de “carne e sangue”
(Hebreus 2.14) como todos nós, tinha uma família, uma profissão, mas os
discípulos notavam que Ele era diferente. Suas atitudes, sua fala, sua
espiritualidade e seu poder para realizar milagres faziam os discípulos o verem
como o Messias que estava por vir, mas não exatamente como eles pensavam.
Certa noite, enquanto eles
atravessavam o mar da Galileia, Jesus dormia na popa do barco, quando sobreveio
grande tempestade de tal modo que os discípulos se desesperam e o acordaram,
clamando por socorro. Então, Jesus repreendeu o vento e a fúria do mar e logo
veio grande calmaria. Ao verem Ele fazer aquilo, os discípulos ficaram
admirados e falavam uns com os outros: “quem é este que até o vento e o mar lhe
obedecem?” (Marcos 4: 35-41).
Mas essa incompreensão sobre a
pessoa de Jesus não estava limitada apenas aos discípulos. Certa vez, Ele
retornou à cidade onde cresceu, Nazaré, e, ao pregar na sinagoga, muitos de
seus conterrâneos diziam: “De onde vem essas coisas?... Que sabedoria é esta
que lhe foi dada? E esses milagres que ele faz? Não é este o carpinteiro, filho
de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco as suas
irmãs?” (Marcos 6:1-3).
Noutra oportunidade, após ter
realizado o milagre de multiplicar cinco pães e dois peixinhos em uma
quantidade suficiente para alimentar a multidão que o seguia, as pessoas diziam:
“sem dúvida este é o profeta que devia vir ao mundo” e queriam proclamá-lo rei (João
6.14,15). Depois, após Jesus fazer um discurso para aquela mesma multidão, as
pessoas falavam, entre si: “este não é Jesus, o filho de José? Não conhecemos
seu pai e sua mãe...?” (João 6:42).
Desse modo, observa-se que eles
viam, de fato, Jesus como o rei que estava por vir (João 1:35-42). A questão,
porém, é que, de acordo com as narrativas dos evangelhos, os discípulos, como
todo os judeus daquela época, aguardavam a chegada de um Messias político-nacionalista
que os libertaria de Roma e elevaria Israel a um status de proeminência entre
as nações. Mas, o problema é que Jesus não se envolvia com política.
Toda essa questão, entorno da
pessoa de Jesus, decorria do fato de que, desde a época do rei Davi, havia a
profecia do profeta Natã, na qual Deus falava para aquele rei: “quanto a você,
sua dinastia e seu reino permanecerão para sempre diante de mim; o seu trono
será estabelecido para sempre” (2Samuel 7:16). Por isso, por aqueles dias,
quando Jesus veio ao mundo, havia uma expectativa messiânica muito forte por
causa da crescente insatisfação com a dominação romana sobre Israel.
Jesus era da descendência de Davi
(Lucas 2.4; Romanos 1.3; 2Timóteo 2.8), mas Ele não estava preocupado com a
situação terrena de Israel. Essa nação foi criada por Deus (Gênesis 12.1,2)
para nela entrar no mundo o Messias que resolveria o problema da humanidade que
se estabeleceu após o pecado original: a condenação da morte eterna, uma vida
eterna separada do Criador.
Porém, desde o período do
reinado, um processo de secularização se iniciou em Israel e, por isso,
desenvolveram essa noção de um messias político-nacionalista. Mas o messianato
de Jesus era espiritual. Jesus era Deus, na pessoa do Filho, que entrou no
mundo para resgatar o homem da condenação da morte, criando uma nova humanidade
e estabelecendo o seu Reino eterno de Deus. No plano divino, era para isso que
o Messias viria ao mundo. Era nesse sentido que o reino de Davi seria eterno (Salmo
89:30-38; Isaías 9:6,7).
Passados dois mil anos de cultura
cristã, Jesus Cristo permanece incompreendido para a humanidade. Sua natureza
complexa, absolutamente humano e admiravelmente divino, só pode ser
compreendida espiritualmente. É como o próprio Cristo disse: “ninguém sabe quem
é o Filho, a não ser o Pai; ninguém sabe quem é o Pai, a não ser o Filho e
aqueles a quem o Filho o quiser revelar” (Lucas10.22). Mas, em sua bondade, Ele
diz: “venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar suas cargas e eu
lhes darei descanso.” (Mateus 11.28).
Antônio Maia – Ph.B., M. Div
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