APOCALIPSE: INTERPRETAÇÕES
O livro de Apocalipse apresenta uma complexa narrativa. Por essa razão
recebe uma diversidade de interpretações. Seu texto contém elementos da
literatura epistolar, apocalíptica e profética. Há quem o veja em uma
perspectiva, meramente, idealista, isto é, ele não trata de acontecimentos
históricos. Seus quadros simbólicos contêm, apenas, verdades espirituais
referentes ao conflito entre o Reino de Deus e as forças espirituais do mal
[1]. É claro que essa é uma interpretação precária, pois é fácil observar, nesse
texto joanino, a existência de eventos concretos passados e futuros em sua
narrativa.
Outros, dentro de uma visão preterista, defendem que ele foi escrito
para encorajar a igreja do primeiro século que passava por perseguições.
Estudiosos do texto grego, na Europa, aceitam essa interpretação. É fato, e o
próprio texto confirma, que esse livro foi escrito para as “...sete igrejas da
província da Ásia” (1.4), que eram igrejas reais visitadas por João. Por esse
motivo, é aceitável supor que a igreja primitiva tenha se visto na trama do
Apocalipse e se fortalecido com a mensagem da vitória de Deus sobre o mal. Mas,
por tratar-se de uma profecia (conforme 1:2 e 22:7), ao mesmo tempo que esse
texto fala aos de sua época, lança também luzes sobre o futuro.
Já a principal forma de interpretação dos reformadores da igreja, no
século XVI, situa-se dentro de uma visão histórica. Influenciados por Agostinho
de Hipona, Calvino e Lutero entendiam que não há um reino milenarista, futuro,
distinto da Igreja. A presente era, em que a Igreja atua na propagação do
evangelho, é esse reino milenarista. Os que defendem essa ideia se ancoram no
conceito teológico do “já e ainda não”. Jesus falou sobre o reino como uma
realidade “já” presente (Mateus 11:5-6; 12:28; 13:1-46), mas também como algo
“ainda não” plenamente realizado (Mateus 6:10; 16:28) (HORTON, 2016, P.979)
Há, ainda, uma quarta interpretação: a futurista. Nesta, a maior parte
dos eventos se refere ao fim dos tempos (4 a 22). É o chamado pré-milenarismo
dispensacional. Essa interpretação defende um arrebatamento secreto da Igreja,
antes da Grande Tribulação, na qual Deus voltará a tratar com a não israelita.
Findo esse período de intenso sofrimento para a humanidade, Cristo retornará
com a Igreja e implantará seu reino de 1.000 anos na Terra. Ao fim desse
período, Satanás é solto e engana, novamente, as nações. Há uma guerra final e,
só então, veem os “novos céus e nova terra” (HORTON, 2016, P.979).
Há, de fato, certas dificuldades hermenêuticas na interpretação do
Apocalipse. Buscar um sentido literal em seu texto, implica em uma
interpretação equivocada, pois a literatura apocalíptica é, altamente,
simbólica. O Apóstolo João parece querer mostrar, dentro da noção do “já e
ainda não”, que a Igreja é o reino de Deus, engajado na propagação evangelho.
No fim do período terrestre desse reino, Satanás é solto e imprime forte
perseguição a ela. Mas Deus executa seus juízos e destrói a presente ordem mundial,
dando início a “novos céus e nova terra” (Apocalipse 21.1)
[1] Bíblia Nova Versão Internacional (comentada). São Paulo: Ed Vida,
2003, p.2167.
Horton, Michael. Doutrinas da Fé Cristã. São Paulo: Ed Cultura Cristã,
2016.
Antônio Maia – M. Div.
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