O AMOR DE CRISTO NOS CONSTRANGE



Essa frase paulina – “o amor de Cristo nos constrange” (2Coríntios 5:14) - foi dita em um contexto de estímulo à evangelização. Contudo, é oportuno falar de seu conteúdo intrínseco, isto é, o amor de Deus pela humanidade. O ser humano, longe de Deus e imerso em um mundo de matéria, não discerne a realidade espiritual. Por essa razão, ele não avalia e nem compreende a intensidade do amor de Deus por ele que, por causa de sua condição de pecado, encontra-se em um estado de grande perigo.

O amor de Deus pelo homem é observado logo no início da Escritura, quando ela trata de sua criação. Sobre os seres que habitam o mar e a terra, por exemplo, Deus disse: “produzam as águas cardumes de seres vivos... produzam a terra seres vivos segundo suas espécies...” (Gênesis 1:20,24). Note que se trata de uma linguagem impessoal. Mas, ao falar sobre a criação do homem, a linguagem é afetiva e pessoal: “façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança”. Depois, o salmista vai dizer que Deus fez o homem um pouco menor que os anjos (Salmo 8:5), o que mostra o interesse do Criador nesse ser que cria.

O apreço de Deus pelo homem pode ser observado nesses aspectos: o homem foi o único ser no qual Deus colocou a sua imagem e ainda o designou para gerir sua criação (Gênesis 1:26). Como a Escritura afirma que, no início, ele vivia na presença do Criador, conclui-se que era um ser magnífico em estrutura física, santo, puro, dotado de levado conhecimento sobre o mundo e com vida eterna. Mas, ao agir em desconformidade com a vontade divina, o homem saiu do propósito original para o qual foi criado. Com isso, sua natureza inicial foi alterada de tal forma que seu corpo passou a progredir em direção à morte física e seu espírito se desligou do Criador e morreu espiritualmente (Gênesis 3). Aquele homem, original, morreu.

Conforme descrevo em meu livro O Homem em Busca de Si, publicado na amazon.com.br, o ser humano é, hoje, um ser que vive a sua morte [1]. O homem que nasce não é aquele que foi originalmente criado por Deus. O pecado o desfigurou e ele já vem ao mundo com um destino: a morte. Se morrer na condição de Queda, isto é, de pecado, com a marca do pecado original, vai experimentar a morte eterna, a separação eterna de seu Criador, em uma região espiritual que a Bíblia chama de inferno. 

Sim, inferno. Esse é um tema pouco falado, atualmente, em muitas igrejas, dominadas por um “evangelho soft” e superficial, mas é preciso que se diga que ele é ensino de Jesus (Mateus 5:22,29,30;10:28;11:23;16:18;18:9;23:15;23:33...). Esse ensino está presente em toda a Escritura e se relaciona a um estado espiritual eterno de trevas, sofrimento, esquecimento e distanciamento de Deus. O ser humano é corpo e espírito. Após a morte o corpo se decompõe, mas o espírito permanece. “Os que morrem no Senhor nesta era vão imediatamente para a presença do Senhor” (2Coríntios 5:8). Já os que morrem sem Cristo vão para o inferno [2]. É relevante dizer que a própria narrativa bíblica termina como esse ensino (Apocalipse 20:14,15; 21:8).

Esse é o grande perigo que a humanidade sofre: morrer e ir para o inferno. E isso não pode ser imputado à uma certa maldade de Deus, pois, no Éden, o homem, como os anjos, era um ser moral livre. Sua decisão equivocada o levou ao estado de morte. E, agora, percebe-se o grande amor de Deus pelo homem, pois no estado de Queda o ser humano não consegue, sozinho, livrar-se da condenação da morte. Ele já está morto, conforme disse Jesus (Mateus 8:22) e, também, o Apóstolo Paulo (Efésios 2:1).

Em face dessa condição, o próprio Deus, por meio do Filho, Jesus Cristo, esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens (Filipenses 2:5-7) e trilhou o mesmo caminho de Adão. Ele foi tentado pelo Diabo e sofreu todo tipo de tentações, mas, diferente do primeiro homem, não pecou (Hebreus 4:15). Fez o que ao homem era impossível: cumpriu a Lei de Deus e venceu o pecado. Por isso Paulo o chamou de “o último Adão” (1Coríntios15:45). Ao final de sua vida, assumiu a culpa dos pecados humanos e veio a morrer. Deus, contudo, o ressuscitou e agora está à direita do Todo Poderoso. Assim, por Ele, Jesus Cristo, um ser humano que não perdeu sua condição original, o homem pecador pode retornar à presença do Criador. Ele abriu esse caminho de volta a Deus que pode ser trilhado pelo homem, por meio da fé em seu sacrifício.    

LIGHTNER, R.P. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.332

MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si – Reflexões Sobre a Condição Humana na Parábola do Filho Pródigo. amazon.com.br, p. 943 

Antônio Maia – M.Div.

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