A REDENÇÃO CÓSMICA
Como comentado, no texto Novos Céus e Nova Terra, postado recentemente
no blog, o grande beneficiário do grave problema pelo qual passa a humanidade,
nesses dias de pandemia do covide-19, é a natureza, o sistema ecológico mundial
ou, para falar em termos teológicos, a Criação. O planeta, o habitat humano,
recupera-se da agressão que o sistema mundial provoca a ele. Assim, é relevante
expandir um pouco mais a reflexão sobre a questão, pouco tratada na Igreja, da
redenção cósmica.
O fato de o ecossistema do planeta se recuperar, devido a redução da
atividade humana sobre ele revela a estrita relação da matéria, do mundo físico
com o homem. O ser humano e o universo são ambos entes de uma mesma criação. A
queda de um corrompe também o outro e foi o que aconteceu no Éden. A decisão
adâmica de desobedecer ao Criador não apenas alterou sua natureza pessoal como
também sujeitou toda a criação ao pecado, deixando-a sob maldição.
Diz o texto de Gênesis: “...maldita é a terra por sua causa...” (1:17).
Essa frase divina contrasta com esta outra que aparece seis vezes, na narrativa
da criação: “e viu Deus que tudo ficou bom” (Gênesis1:3,10,18,21,25,31). A
repetição dessa última frase denota a ênfase que é dada ao aspecto da perfeição
cósmica de tudo que foi criado. Já a declaração da maldição reflete a
catástrofe que ocorreu no universo com surgimento do pecado, nele.
Pode parecer um excesso a conclusão de que o universo se deteriorou só
por causa dessa frase. Contudo, é preciso que se entenda que a narrativa de
Gênesis 1 não constitui um texto científico com explicações detalhadas e
argumentativas. Nesse mesmo texto, por exemplo, afirma-se que a luz surgiu
apenas com a proclamação de uma brevíssima sentença: “haja luz”. Na verdade,
toda a Criação é descrita em uma única página. Em Gênesis 1, os processos
criativos não são objetos de minucioso detalhamento descritivo, pois não é esse
o objetivo do texto.
Fato é, contudo, que houve uma alteração na ordem do cosmo. Essa palavra
“cosmo” é de origem grega e significa “organização”, “harmonia”. Mas a própria
ciência informa que o universo não é tão organizado e harmonioso como se pensa.
Ele está em desequilíbrio e é um lugar perigoso para a vida. Trazendo a questão
apenas para o planeta Terra, os tsunamis, os terremotos e as pestes como essa
da covide-19 refletem a desordem do cosmo. Diariamente milhares de meteoros,
isto é, rochas que viajam pelo espaço caem na terra. Há, portanto, uma
preocupação com a queda de grandes meteoros que poderiam causar danos à vida
humana.
Outro aspecto que indica que houve uma alteração no cosmo é o número de
passagens que falam de uma restauração do universo, no futuro. Isaías, por
exemplo, fala que Deus diz: “criarei novos céus e nova terra” (65:17; 66:22).
Jesus Cristo fala de uma “regeneração de todas as coisas, quando o Filho do
homem se assentar em seu trono glorioso...” (Mateus19:28). Pedro também fala de
um tempo em que “Deus restaurará todas as coisas, como falou há muito tempo,
por meio dos seus santos profetas” (Atos3:21). E Paulo diz que Deus remirá o
universo de seu estado atual de escravidão da decadência (Romanos
8:18-21).
A questão é que essa restauração envolve a destruição do presente
sistema, cujo início ocorre com a chegada da Grande Tribulação, da qual falou
Jesus. O Apóstolo Pedro fala algo sobre esse fim: “os céus desaparecerão com
grande estrondo e os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo
que nela há, será queimada (2Pedro3:13). Segundo Gouveia (2009, Vol 3, p.33),
“a doutrina bíblica do universo criado inclui a certeza de sua redenção final
do domínio do pecado. O universo finalmente redimido é chamado de novos céus e
nova terra” [1]. De fato, o Apóstolo João, falando sobre esses novos céus e
nova terra disse: “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor,
pois a antiga ordem já passou. Aquele que estava assentado no trono disse:
estou fazendo novas todas as coisas” (Apocalipse 21:4,5).
Antônio Maia - M.Div.
Direitos autorais reservados
[1] GOUVEIA, R.Q. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São
Paulo: Ed Vida Nova, 2009, Vol 3, p.33
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