O MISTÉRIO DE CRISTO


Os sinóticos, isto é, os evangelhos que apresentam uma mesma visão sobre Jesus Cristo, narram um episódio em que Jesus e seus discípulos decidem atravessar o mar da Galileia. A uma certa altura da travessia, levantou-se um forte vendaval, de tal modo, que o evangelista Lucas disse: “eles corriam grande perigo” (8:23). Mas, segundo Marcos, “Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro” (4:38). Foram, então, a Jesus, que acordando, “repreendeu os ventos e o mar, e fez-se completa bonança” (Mateus 8:26).

Esta breve narrativa, constante dos três primeiros evangelhos, aponta para três questões teológicas da maior relevância para a fé cristã. A primeira questão que salta aos olhos é o mistério de Cristo. Após aquele feito de Jesus, os discípulos se perguntavam: “quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?”. A segunda é a condição humana. As três narrativas mostram os discípulos dominados pelo pavor da morte. E, por fim, há a temática da necessidade humana de salvação, isto é, de libertação do homem de sua condição de queda. 

Os discípulos não compreendiam Jesus. Eles o viam um homem de carne e osso, tanto que Marcos revela o detalhe de Jesus dormir com a cabeça encostada em um travesseiro, mostrando sua completa humanidade. Mas esse homem, cujo endereço eles conheciam, demonstra impressionante poder sobre a natureza, a matéria, a física. Ele não apenas controlou os ventos e acalmou o mar. Em outras passagens, Ele aparece transformando água em vinho (João 2), multiplicando pães (Mateus 14:13-21; 15:29-39) e andando sobre as águas do mar da Galileia (Marcos 6:45-56). Os evangelhos também mostram que Ele tinha poder sobre enfermidades, poderes espirituais do mal e até mesmo sobre a morte.

Como pode um ser humano com tanto poder sobrenatural? Essa incompreensão só vai ser dissipada após a descida do Espírito Santo. Este os levou a um melhor entendimento sobre Jesus, mostrando que Ele não era um Messias político-nacionalista como eles pensavam e esperavam. O messianato de Jesus era espiritual. Ele não veio resolver os problemas do reino de Israel, mas implantar o Reino de Deus, cuja agenda contemplava a formação de uma nova humanidade, constituída por pessoas libertas do poder do pecado e da morte. Ele veio para, por meio do sacrifício de sua vida, abrir um caminho para o homem voltar ao Éden, à presença de Deus.

Os discípulos descobriram, depois da decida do Espírito Santo, que quem estava com eles, naquele barco, era, realmente, um homem de carne e osso, mas também, misteriosamente e incompreensivelmente, Deus encarnado. Jesus deu testemunho de que sua procedência era divina. Ele disse: “eu vim do Pai” (João 16:28); “eu e o Pai somos um” (João 10:30). Essa percepção da divindade de Cristo começou cedo na igreja primitiva. Paulo, possivelmente, um dos primeiros a escrever textos que, depois, integrariam o Novo Testamento, disse: “deles (os judeus) são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de todos bendito para sempre! Amém!” (Romanos 9:5). Este é o mistério de Cristo que só compreendemos pela fé.

No tocante à segunda questão teológica, a condição humana sujeita à morte, Lucas narra que eles disseram para Jesus: “Mestre, Mestre, vamos morrer” (8:24). A morte é uma realidade marcante na vida humana. No entanto, a Bíblia mostra que o homem foi criado perfeito e com vida eterna. Ela só entrou no gênero humano após o pecado original (Gênesis 2 e 3). De acordo com as Escrituras, Jesus veio ao mundo para resolver esse problema. Paulo o chama de “o segundo Adão”. O primeiro foi tentado e pecou, perdendo sua condição original. Jesus, contudo, “passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hebreus 4:15). Assim, Ele percorreu o caminho de Adão, mas como nunca pecou, Deus o ressuscitou dentre os mortos e Ele voltou para o Pai.

Esse é o caminho de Jesus: “eu vim do Pai e entrei no mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai” (João 16:28). E aqui se apresenta sucintamente a terceira questão: a necessidade humana de salvação. O homem, após o pecado original, ficou preso em uma nova condição de existência sujeito ao sofrimento e à morte. Seu corpo, agora, progride para a morte e seu espírito morreu para Deus. Por isso, Jesus ao vê-los com medo da morte, os salvou e perguntou: “por que vocês estão com tanto medo? Ainda não tem fé? As Escrituras mostram que Cristo não veio salvar os homens dos perigos terrenos, mas da prisão da morte eterna. Mas, o homem só alcança essa dádiva pela fé em Cristo. É como disse o autor de Hebreus: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima, precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam (11:6). Só pela fé, em Cristo, o homem percorre o mesmo caminho de Jesus. 

Antônio Maia – M. Div.

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