A VISÃO DE PAULO SOBRE O CRISTÃO

Nossas orações sempre revelam um pouco do nosso íntimo. Elas mostram, em certa medida, o nosso caráter, as nossas preocupações e o modo como vemos as coisas e o mundo. O Apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, registrou uma oração, na qual se nota como ele enxergava o cristão. Essa visão sobre o seguidor de Cristo, nesse texto, pode ser observada também em toda a sua extensa literatura. Para ele, o cristão não é um homem ou uma mulher que, simplesmente, adotou uma religião cristã, mas alguém que foi alcançado e transformado pelo amor e pelo poder de Deus (3.14-21).

Nesse processo, Deus se aproxima do homem e se deixa ser alcançado por aquele que o busca, acolhendo-o e transformando-o em um filho (Romanos 8:9-14,16). Ele faz isso porque o ser humano, em seu estado de Queda, isto é, separado de Deus, encontra-se em condição degradante tanto no corpo como na alma e no espírito. Paulo entende esse estado de corrupção como morte. Aquele homem puro, santo e perfeito, de antes do pecado original, morreu. Por isso, ele diz: “vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados... todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos...” (Efésios 2:1,4,5).

Por essa razão, essa transformação é operada, no ser humano, não por um poder qualquer, mas pelo mesmo poder que ressuscitou Cristo dos mortos. Esse fato, ao mesmo tempo que revela o efeito devastador do pecado adâmico, mostra o grande amor de Deus para com o homem. Veja o que disse o Apóstolo ao falar sobre a obra de Deus nos cristãos: “...a incomparável grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, conforme a atuação de sua poderosa força. Esse poder ele exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita, à sua direita nas regiões celestiais” (Efésios 1.19,20). 

Por causa dessa transformação, que se sustenta em fé, Paulo vai dizer aos Coríntios “que quem está em Cristo é nova criação”. No entanto, esse “novo homem” subsiste em um estado de delicadeza espiritual, sujeito ainda ao pecado. Veja o que Paulo diz em sua oração: “oro para que... ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito, para que Cristo habite no coração de vocês, mediante a fé”. Observe que a vida espiritual, no homem, não é possível sem a ação do Espírito. Este “nos ajuda em nossa fraqueza” (Rm8.26) e a nossa resposta a esse “poder que atua em nós” é dizer sim ao seu chamado, procurando viver sob sua orientação. 

Sobre tudo o que foi dito, fica evidente que a visão de Paulo sobre o cristão não se relaciona com religiosidade, mas com um encontro do homem com Deus. O cristão é aquela pessoa que se deixou ser transformada pelo Senhor por meio do poder de sua Palavra, pela oração e pela atuação do Espírito Santo. Paulo antes de seu encontro com Deus, no caminho de Damasco, era um homem religioso, mas os frutos dessa religiosidade se evidenciavam em ódio e violência contra os seguidores de Jesus Cristo.

Por fim, o Apóstolo dos Gentios revela, em sua oração, que há no cristão um ganho de conhecimento da pessoa de Deus e do amor de Cristo. Amor esse “que excede todo entendimento” a ponto de dar a sua vida pela humanidade. Por isso, a vida espiritual do seguidor de Jesus Cristo não está alicerçada no medo, na pressão do grupo religioso, na obrigação imposta pela religiosidade morta. Esses tipos de respostas não vêm da ação do Espírito de Deus nos homens. A vida do cristão está, antes, alicerçada e arraigada no amor a Cristo. 

Antônio Maia

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