A CONDIÇÃO HUMANA
Quem já leu a Bíblia, da primeira à última página, sabe que ela começa e
termina com uma enigmática "árvore da vida". Com certeza, isso não
ocorre por uma razão simples. Qual o significado dessa “árvore”, visto que ela
ocupa posições relevantes na profecia bíblica? Esse tema das Escrituras
constitui um daqueles muitos para os quais não alcançamos uma compreensão
aprofundada. No entanto, é possível falar sobre ele no que tange à condição
humana.
A “árvore da vida” tem sua primeira aparição, no texto bíblico, no
contexto da narrativa da Queda, isto é, no momento em que o homem decide
afastar-se de Deus. Ao primeiro homem, foi permitido comer de qualquer árvore
do Éden, inclusive, dela, da “árvore da vida”, menos comer da “árvore do
conhecimento do bem e do mal” (Gênesis2.16,17). Há de se observar, contudo, que
não existem, no texto, elementos que indiquem que essa ordem do Criador derive
de circunstâncias de ordem material. Isto é, não se trata da existência ou não
de substâncias químicas nas árvores que viessem a fazer bem ou mal ao homem.
O sentido dessa recomendação divina, comer da “árvore da vida” e não
comer da “árvore do conhecimento do bem e do mal” é, na verdade, de natureza
espiritual. Agindo o ser humano conforme essa ordem de Deus, estaria ele
vivendo de acordo com a vontade divina, sob um discernimento moral que vinha do
próprio Criador. Por outro lado, quebrando essa determinação, Adão estaria
buscando uma orientação moral própria, uma vida autônoma em relação a
Deus[1].
Nesse ponto de nossa reflexão, notam-se três aspectos importantes, a
considerar: a condição humana de “ser” criado, sua liberdade em tomar decisões
conforme sua consciência e a vontade divina. Criado à imagem e semelhança de
Deus, o primeiro homem era dotado de liberdade, esta, porém, não podia entrar
em conflito com a vontade de divina. Como um “ser” criado à imagem de seu
Criador, o homem podia muito, mas não tudo. Sua condição de “criado” lhe
impunha limites que não deveriam ser ultrapassados. Fazer isso alteraria sua
natureza, pois fora criado para agir conforme a vontade divina.
Adão fez uso de sua liberdade ao extremo. Sua decisão de agir em
desacordo com sua essência lançou a humanidade no exílio de uma nova
existência[2], marcada por sofrimento, dor e morte. Deus, no entanto, por seu
grande amor pelo homem, por meio do Filho, Jesus Cristo, abriu um caminho de
volta à condição original (João.14.6). O Criador, na pessoa do Filho, tornou-se
criatura, viveu entre nós no padrão da vontade divina e abriu um caminho de
volta a Deus por meio de sua morte e ressurreição (João16.28). Hoje a
humanidade vive segundo sua própria vontade, longe de Deus. Por isso Jesus, em
sua oração dominical, ensinou para pedirmos ao Pai que “a sua vontade seja
feita assim na Terra como nos céus”. O texto bíblico termina com os homens
vivendo na vontade do Criador e alimentando-se da “árvore da vida”
(Apoc22,1,2).
Antônio Maia – M.Div
Direitos autorais reservados
[1] LaSOR, William. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo, Ed Vida
Nova, p.28
[2] MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si. Amazon, p.89