A ORAÇÃO DO "PAI NOSSO"



Muitos cristãos, em nome da não religiosidade, deixaram de orar a oração do “Pai nosso”. Por ela ser uma “oração modelo”, muitos entendem que orá-la, com frequência, pode induzir o crente a uma prática mecânica do ato de falar com Deus. Contudo, se analisarmos as nossas orações espontâneas, que acreditamos brotarem do fundo do nosso coração, veremos que elas também guardam certa regularidade de ideias e estão carregadas de clichês e moldes conceituais, frutos da teologia da comunidade de fé que frequentamos.

O perigo de nos tornarmos formais e mecânicos, no culto a Deus, está sempre perto. Só a consciência profunda da presença divina em nossas expressões de adoração nos livrará desse risco. A verdade, porém, é que os cristãos perdem muito em não orar a oração que o Senhor ensinou a seus primeiros discípulos. Quando oramos o “Pai nosso” nos reportamos às origens de nossa fé e nos ligamos a uma tradição milenar deixada pelo Senhor Jesus Cristo.  “De acordo com Cipriano, Bispo de Cartago (séc III), orar o ‘Pai nosso’ significa orar a Deus com as palavras que Ele mesmo nos ensinou”[1].  

Há, ainda, outro aspecto importante quanto à necessidade de orarmos a oração dominical, isto é, a oração do Senhor. De acordo com Karl Barth, a oração não é um ato arbitrário nosso, mas “é um assunto regulado por Deus, não por nossa iniciativa”[2]. Não é de se admirar que muitos, abandonando o ensino de Jesus sobre a oração, a transformaram em magia ou, ingenuamente, a usam como se pudessem manipular Deus. Mas os evangelhos mostram, claramente, o que podemos orar e como podemos orar a Deus.

Convém que se compreenda que a oração do “Pai nosso”, que Jesus ensinou, está no centro de sua catequese sobre a oração. Como são palavras que o próprio Senhor proferiu, temos nele um pouco do pensamento de Jesus, do que ia em seu íntimo. Podemos observar aspectos relevantes de seu ensino, tais como Deus, o Pai, e seu Reino. A leitura atenta, na oração do “Pai nosso” nos levar a concluir que Deus, e não nós, constitui o centro desse momento em que o homem, mesmo em sua condição de pecado, se reuni com a Trindade. Sim, a oração é um encontro com Deus, uma reunião com a Trindade[3].

Então, é da maior importância para o cristão a prática de orar, diariamente, o “Pai nosso” com o cuidado de fazê-lo não mecanicamente, mas com a consciência de que está na presença de Deus. Experimente, quando você for orar, pronunciar a primeira palavra da oração, isto é, “Pai” e ficar por um breve tempo em silêncio, pensando em Deus ou em Cristo, na cruz. Depois comece a orar devagar e, conscientemente, as palavras da oração. Você vai sentir a solenidade e quão sublime é esse momento e, aos poucos, vai descobrir o prazer da vida de oração. Pode repetir, se desejar, e depois pode continuar conversando com Deus com suas próprias palavras. 

Antônio Maia – M.Div

Direitos autorais reservados

[1] RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré, Ed Planeta, São Paulo, 2007, p. 124

[2] BARTH, Karl. O Pai Nosso – A oração que Jesus ensinou aos seus discípulos. Fonte Editorial, São Paulo, 2006, p. 26.

[3]   MAIA, Antônio. Senhor Ensina-nos a Orar. Um ensaio sobre a centralidade de Deus na oração. São Paulo: amazon.com.br, p.39

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