EXERCITE-SE NA DEVOÇÃO


O que faz o cristão para viver a sua fé em Cristo e expressar o seu amor a Deus? É importante refletir sobre isso, pois a correria da vida pode transformar-nos em meros autômatos religiosos. Corremos o risco de pensar que a vida espiritual se resume a tão somente frequentar os cultos dominicais. A rotina “trabalho-estudos-família-lazer-igreja” pode gerar, inconscientemente, a ideia de que o aspecto espiritual constitui apenas mais um item de nossa agenda semanal.

Paulo, escrevendo a Timóteo, deu orientações que revelam que a vida cristã é muito mais interessante que a monotonia da religiosidade morta. Por isso ele recomendou a seu “verdadeiro filho na fé” (1Tm1.2) para que “exercite-se na piedade” (1Tm4.7). Essa palavra “piedade” é uma ênfase, nesse texto paulino, pois aparece, nele, oito vezes. É sinônimo de “devoção”, uma vida, muito além de ir à igreja aos domingos, pautada pela prática das disciplinas espirituais da reflexão na Palavra, do jejum, da oração, e da comunhão com os irmãos de fé.

Tais práticas devocionais não devem, no entanto, serem encaradas como um fim em si mesmas. Fazer isso só nos tornaria seus prisioneiros e nos levaria ao erro de confundí-las com a adoração. Elas não constituem, em essência, a vida espiritual. São, somente, meios que nos aproximam de Deus e nos levam à verdadeira devoção: uma vida de comunhão e relacionamento com o Pai.  

Os cristãos que conseguem organizar seu dia-a-dia, contemplando, em sua vida, a prática desses exercícios espirituais descobrem como tão libertadores ele são. A vida de devoção cria nos seguidores de Cristo a consciência de que eles não vivem para si mesmo, mas para Deus. Longe de ser uma chatice ou alienação do mundo, a piedade, misteriosamente, traz paz ao coração do homem e fortalece seu ânimo para enfrentar a luta diária da vida.

O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo: “não há dúvida de que é grande o mistério da piedade: Deus foi manifestado em corpo, justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, recebido na glória". Isto é, o objeto da devoção cristã não é qualquer coisa, mas o próprio Deus que se encarnou, na pessoa do Filho, que foi morto, mas ressuscitou e agora está na glória, a direita de Deus Pai. Desse modo, a devoção cristã nos livra de sermos como os religiosos com seus esforços inúteis, pois ela nos aproxima e nos liga ao próprio Criador.
ANTÔNIO MAIA

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