POR QUE EXISTE O MAL ?



Observando o cenário mundial, nota-se a humanidade mergulhada em um processo de contínuo sofrimento. Há fome e guerras em diversas regiões do planeta afligindo massas populacionais. Vez por outra, catástrofes naturais tiram a vida de milhares de pessoas. O próprio homem aflige seu semelhante nas relações interpessoais. Vem-nos, então a pergunta: “sendo Deus bom, e tendo feito todas as coisas boas, de onde vem o mal?”. 

Essa questão foi levantada pelo pensador cristão Santo Agostinho, em sua obra Confissões, dentro do contexto da análise sobre o problema do mal no gênero humano. Ela é uma das mais complexas para a Teologia. Em suas análises e reflexões, o Bispo de Hipona escreveu: “procurei o que era a maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema – de Vós, ó Deus – e tendendo para as coisas baixas ...” [1].

O que aquele grande estudioso estava falando era que Deus não criou o mal, mas ele veio a existir por um desvio da vontade humana. De acordo com a narrativa do Gênesis, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. E um aspecto dessa semelhança do homem com o Criador é a liberdade para tomar decisões. O mau uso dela trouxe para a humanidade toda sorte de mal e sofrimento. O homem tornou-se mau.

Diz a Bíblia que, originalmente, o homem vivia em um ambiente vegetal e podia comer de qualquer árvore, menos da “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Deus falara a Adão que no dia em que ele comesse daquela árvore morreria (Gênesis2.16,17). Mas o Tentador, em forma de uma serpente, convenceu a mulher a comer. Ele disse: “certamente não morrerão! Deus sabe que no dia em que dele comerem seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:4,5). 

Uma leitura irrefletida dessa passagem pode levar a conclusão de que é um exagero considerar que todo esse estado de sofrimento e dor, no qual está mergulhado a humanidade, é consequência da simples desobediência do primeiro casal. Contudo, por trás daquele ato de Adão e Eva havia o desejo de uma vida autônoma e independente do Criador.  

Não se tratava apenas de comer ou não do fruto proibido. O primeiro homem queria ser “como Deus” e, nesse ponto, observa-se que ele, no momento da decisão de comer ou não daquele fruto, amou mais a si do que a Deus. Criado para viver em comunhão com seu Criador, aquele ato de rebeldia, alterou sua natureza original e, assim, ele se separou de Deus, a fonte que lhe nutria vida. Com a comunhão rompida, o ser humano mergulhou em uma nova existência que, por causa da ausência de Deus, é marcada pela dor, sofrimento e mal [2]. 

Essa é a razão, segundo Agostinho, da humanidade encontrar-se imersa em angústia e aflição. Cabe, então, a pergunta: por que Deus não põe um fim ao mal e muda essa situação? Isso Ele já fez, ao entrar no mundo, na pessoa do Filho, abrindo, por meio de sua morte e ressurreição, o caminho que pode levar o homem à sua condição original. Para Deus já está tudo resolvido, pois Ele não está preso ao tempo como os seres humanos.

O homem, no entanto, tem que aguardar o desfecho da profecia bíblica que se transcorre no tempo. Ele, porém, só retorna à comunhão com Deus, se tomar o caminho aberto por Deus, por meio da morte de seu Filho, na cruz. Por isso, percebemos, ainda, o mal no mundo. Mas, o desfecho da narrativa bíblica termina com Deus dizendo: “estou fazendo novas todas as coisas!”, isto é, uma nova ordem mundial, onde não há dor, pranto, sofrimento e morte. Onde não há o mal e, na qual a humanidade viverá com Deus (Apocalipse21.1-7). 

Antônio Maia – M. Div.

Direitos autorais reservados

[1] AGOSTINHO, Santo. Confissões. Ed. Vozes. Petrópoles-RJ, 2011, p. 157.

[2] MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si - Reflexões sobre a Condição Humana na Parábola do Filho Pródigo. amazon.com.br

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