A JUSTIÇA QUE NOS SALVA



É obvio que esta frase – “a justiça que nos salva” – não tem nenhum sentido para aquele que não teme a Deus. “Salvar de quê?”, diria ele, o ímpio. Ele vive como se fosse eterno e como se não existisse Deus. No entanto, do alto de sua arrogância, pensando ser alguém e nada sendo, ele desconhece sua origem, seu destino e a razão de sua existência no mundo. Não sabe nem se estará vivo amanhã, mas vive como se fosse o senhor de sua vida. Porém, todo esse desprezo pelas coisas espirituais não anula o fato de que pesa sobre ele a condenação para a morte eterna por causa do pecado original.

Sim. A humanidade está condenada à morte eterna, isto é, uma existência destituída da glória com a qual ela foi criada e da presença de seu Criador. Tal afirmação se fundamenta em toda a extensão da sagrada Escritura e, em especial, na declaração do Apóstolo Paulo que diz que o homem se desviou de Deus. Veja o que ele escreveu: “não há nenhum justo, nenhum sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nenhum sequer (Romanos 3.10-12).

“Não há ninguém que entenda”, porém, hoje, a humanidade sabe de sua dívida para com Deus, crendo ou não, porque Ele se revelou ao mundo caído. De fato, após o primeiro pecado, o homem morreu espiritualmente e, afastando-se de Deus, não tinha como saber sobre sua existência e seu amor pela humanidade. Contudo, Deus se revelou ao homem e desencadeou um plano para salvá-lo dessa condição de pecado que se estabeleceu, em seu ser, e livrá-lo da morte eterna, isto é, uma vida em estado de corrupção e separação eterna de seu Criador.

No contexto desse plano, Deus deu ao homem a sua Lei. Ela mostra o padrão de vida que Ele requer dos seres humanos, pois ela, nada mais é que o estilo de vida no qual o homem vivia antes do pecado original. Contudo, após a Queda, com a entrada do pecado no ser do homem, ele não consegue mais viver como antes. Por isso o Apóstolo Paulo afirma que “ninguém será declarado justo diante dele [de Deus] baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante à Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado” (Romanos 3.20). Como entender isso, então? A Lei é o padrão sob o qual devemos viver, no entanto, ninguém será considerado justo, diante de Deus, pela obediência a ela?

Sim. A Lei não pode ser usada como meio de salvação, forma de justiça, por causa da entrada do pecado, no coração do homem, por ocasião da Queda. A natureza humana foi corrompida e ele, simplesmente, não consegue viver como antes do pecado original. Ele pode até cumprir vários aspectos da Lei, mas sempre cairá em um ou outro e, assim, se tornará réu de toda a Lei. Tiago, em sua carta, fala sobre isso: “pois quem obedece toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente” (Tiago 2:10). Como pode, então, o ser humano livrar-se da morte eterna? O que o justificará diante de Deus? E a Lei, qual a sua utilidade, então?

“A Lei é santa” (Romanos 7.12) e, enquanto existir este mundo, ela estará em vigor e não será revogada, disse Jesus (Mateus 5.18). Ela, enquanto revela um pouco do ser de Deus, mostra que o homem está em pecado diante dele. É como disse Paulo: “é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado”. Assim, ela mostra que o homem não pode ser salvo por uma justiça própria, por um esforço pessoal em cumpri-la. E como só por meio de uma vida segundo os padrões divinos o homem pode se salvar, ela mostra que o homem precisa aceitar a justiça que vem de Deus. E, aqui, revela-se o grande amor do Criador pelo homem. Ele próprio providenciou um meio de salvação, uma forma de justiça, para o homem.

Essa justiça é a fé no sacrifício de seu Filho, que veio ao mundo, como homem de carne e sangue. Jesus cumpriu toda a Lei e, assim, tornou-se apto para se oferecer para receber, no lugar da humanidade, a condenação que estava sobre ela por não conseguir cumprir a Lei. Desse modo, veio a morrer em uma cruz, mas, ao terceiro dia, Ele ressuscitou e voltou ao Pai. Com sua morte e ressurreição, Jesus Cristo abriu um caminho para o homem retornar a Deus.

Esta é a “justiça que vem da fé”, diz o Apóstolo Paulo. Aquele que crer nesse ato de Jesus e em sua ressurreição é justificado diante de Deus. Por isso, Paulo, em sua carta aos Romanos, fala de duas justiças: “a justiça que vem da Lei” e a “justiça que vem da fé” (Romanos 10.5-11). Já foi mostrado que que a justiça que se busca pelo cumprir a Lei é falha, pois o ser humano não consegue cumpri-la. O homem Jesus Cristo, no entanto, cumpriu toda a Lei e isso o tornou digno, diante de Deus, para validar seu sacrifício vicário (vida por vida). 

Por essa razão, o Apóstolo Paulo é enfático ao mostrar a nulidade da “justiça que vem da Lei” e o amor de Deus pelo homem ao dar o seu próprio Filho em favor da humanidade (a justiça que vem da fé). Ele afirma: “...sabemos que ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado” (Gálatas 2.16). Está claro, desse modo, que o homem não é salvo da morte eterna por ser uma boa pessoa, fazer o bem, fazer obras de caridade, tentar cumprir a Lei de Deus. Mas é salvo só mediante a fé no sacrifício de Jesus para que ninguém se glorie, diante de Deus (Efésios 2.8-10).

E é, sumamente, relevante destacar este ponto: “para que ninguém se glorie, diante de Deu”. Era uma vida autônoma que Adão buscava quando decidiu não cumprir a recomendação divina de não comer da “árvore do conhecimento do bem e do mal”. O ser humano caído quer estar no controle, até mesmo das coisas espirituais. Ou ele despreza Deus, ou quer salvar-se ao seu próprio modo. O que disse o jovem rico a Jesus? “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Ele queria fazer algo, pois assim estaria no controle da situação. Ele pensava que podia fazer algo para resolver seu problema espiritual. Jesus, então, disse o que ele deveria fazer. Mas, aí, ele saiu triste, pois aquilo que Jesus o mandou fazer, ele não conseguiria. O homem não tem competência para resolver o problema do pecado em seu coração.

E nesse ponto ressalta-se o grande amor de Deus pelo ser humano. “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus (2Coríntios 5.21). Assim, o homem que se rende a Deus, reconhece sua condição de pecador e recebe Jesus como seu Senhor e salvador ganha os benefícios da justiça que vem pela fé em Cristo. E para ele valem as palavras que dizem: “...agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte”. A morte e ressurreição de Jesus anularam o poder do pecado naquele que crer, pois as “justas exigências da Lei” foram plenamente satisfeitas no sacrifício de Cristo (Romanos 8.1-4).

Antônio Maia – Ph.B., M.Div.

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Comentários

A graça de Deus é maravilhosa e profunda no seu entendimento, pois até para podermos compreender o conteúdo deste mensagem, necessitamos que o Espírito Santo nos guie e auxilie, dado que somos tão pequenos diante do Senhor. Glória à Deus nas alturas!
Antônio Maia disse…
Que lindas e humildes palavras, Carlos Eduardo. O Senhor seja louvado!

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