O PRAZER NA LEI DO SENHOR
Aquela pessoa, seja homem ou
mulher, que se reencontrou com Deus, por meio de Cristo no novo nascimento, tem
prazer na Lei do Senhor. É como disse Davi: “tenho grande alegria em fazer a
tua vontade, ó meu Deus; a tua lei está no fundo do meu coração” (Salmo 40:8).
Esse prazer é a tônica da relação
do cristão com a Lei divina. Nada tem a ver com a religiosidade morta dos que,
em um esforço de autossalvação, procuram cumpri-la, inutilmente, com suas
próprias forças. O Apóstolo Paulo já falou sobre essa questão: “...sabemos que
ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo”
(Gálatas 2:15).
Ninguém é justificado pela
prática da Lei pelo simples motivo de que ninguém consegue cumpri-la
integralmente. Após o pecado original (Gênesis 2:17 e Gênesis 3), o ser humano
entrou em um estado de degradação de seu ser. Não apenas o seu corpo se
corrompeu, passando a progredir em direção à morte e à desintegração na
sepultura; mas também seu espírito se desligou de seu Criador, passando a viver
sob uma motivação própria centrada não na Lei divina, mas em um código moral e
ético pessoal.
Nessa nova condição, nesse estado
de Queda, o ser humano, mesmo desejando fazer o bem, acaba praticando o mal. O
homem caído tem uma inclinação para o mal. Por esse motivo, a ênfase da relação
do cristão com a Lei divina não consiste no esforço por cumpri-la para ser
salvo, mas vivê-la porque já é salvo. Ele faz isso, o quanto pode, busca a
santidade, como uma resposta de amor àquele que o amou primeiro: Deus. Cristo
já cumpriu toda a Lei pelo homem (Romanos 8:3; Mateus 5:17).
Nota-se, então, que esse prazer
não é resultado, propriamente, de um empenho humano, mas é um efeito da ação do
Espírito de Deus no ser do homem convertido a Cristo. O renascimento para Deus,
operado pelo Espírito como resultado da fé em Cristo, religa a criatura humana
caída ao seu Criador. Nesse processo, o homem tem um encontro, não apenas com
Deus, mas também consigo mesmo. Ele se reencontra com seu “eu” original, pois,
agora, entende que sua origem está em Deus, visto que “o próprio Espírito
testemunha” ao seu espírito que ele é filho de Deus (Romanos 8:16).
Esse testemunho do Espírito junto
ao seu espírito traz paz que vem, ao seu coração (Romanos 5:1). Ele, agora,
entende que as motivações internas do homem, oriundas do código moral e ético
desenvolvido, nele, após o pecado inicial lhes dão uma sensação de autonomia e
liberdade, mas, ao mesmo tempo, lançam-no ao exílio da solidão no mundo. Eis a
causa de sua angustia. Ele não entende a razão de sua existência bem como não
sabe de onde vem nem para onde vai.
Assim, essa transformação
ocorrida em seu interior, no novo nascimento (João3:1-8), faz esse novo homem,
em Cristo, ver a Lei de Deus como algo aprazível, parte de sua essência
original, perdida na Queda. A Lei de Deus é o estilo de vida do homem antes do
pecado adâmico. Ela o faz um ser da criação divina e não de sua própria
rebeldia. Ela, Lei divina, é a vontade de Deus para o homem. Por isso Davi diz:
“tenho grande alegria em fazer a tua vontade” e, assim, Davi a põe na base de
sua ação. Ele diz: “a tua Lei está no fundo do meu coração”.
Do exposto, observa-se a estreita
relação entre a Lei de Deus e o ser do homem. Ela, na verdade, constitui o
“modus vivendi” do ser humano antes da Queda. Assim posto, se uma pessoa se
entende como cristã, mas não tem prazer nela, não a vê como o estilo de vida a
seguir, mesmo sabendo que não conseguirá vivê-la em plenitude, mas que isso não
implica na perda da salvação, é porque há algo de errado com sua relação com
Deus. É possível que essa pessoa esteja vivendo o cristianismo apenas no nível
da religiosidade morta. Ainda não se reencontrou com Deus e não passou pela
experiência da transformação interior, operado pelo Espírito Santo, no
"novo nascimento".
O Profeta Jeremias, em um momento de
grande pecado em Israel, quando o povo estava separado de Deus, revelou o
segredo para o reencontro com Ele: “clame a mim e eu responderei e lhe direi
coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece... eu os purificarei de
todo o pecado que cometeram contra mim e perdoarei todos os pecados de rebelião
contra mim” (33:3,8).
Antônio Maia – Ph.B., M. Div.
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