O DEUS DESCONHECIDO



De acordo com a narrativa de Atos dos Apóstolos, o Apóstolo Paulo, certa vez, permaneceu alguns dias em Atenas, enquanto aguardava alguns companheiros de viagem. Caminhando pela cidade, observou a grande quantidade de ídolos, inclusive um altar no qual estava escrito: “ao Deus desconhecido” (Atos 17:23). Essa passagem mostra que, embora a própria Criação aponte para “os atributos invisíveis de Deus” e, por isso, “os homens são indesculpáveis” (Romanos 1:20), o ser humano não o conhece. De igual modo, embora o SENHOR tenha se revelado ao mundo, pelos profetas e, depois, por meio de Jesus Cristo, Ele sempre foi, e ainda é, um grande desconhecido para a humanidade. 

Segundo estatísticas mais recentes, o mundo possui 7,7 bilhões de pessoas, mas apenas 2,3 bilhões se dizem cristãos. Os outros 5,4 bilhões professam outras religiões. Desses, muitos devem ter ouvido falar de Deus e Jesus Cristo, mas é possível que a grande maioria nunca ouviu falar deles. A Queda, isto é, o episódio em que o homem se separa de Deus, causou efeitos devastadores no ser do homem. Ele morreu espiritualmente, ou seja, se desconectou de seu Criador. O grande número de religiões que existem, no mundo, é uma evidência da saudade que o ser humano sente de Deus, mas as suas próprias concepções da Divindade revelam que ele não o conhece. 

Diante desses dados, é possível a pergunta: “estará a Igreja falhando em sua missão de anunciar Jesus ao mundo?”. Quem sabe? Contudo, Deus, em sua soberania, tem todas coisas sob controle. De fato, o evangelho não é para todos. O próprio texto de Atos revela que, após Paulo falar sobre a ressurreição de Jesus, os atenienses se retiram e apenas “alguns homens se juntaram a ele e creram” (17:34). Embora o sacrifício de Cristo tenha eficácia para salvar toda a humanidade, só poucos alcançarão essa graça. Os homens estão buscando outros caminhos. Jesus disse: “entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo é o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela...” (Mateus 7:13). No entanto, Deus está constituindo o seu povo.

Mas essa questão de Deus ser um desconhecido não diz respeito a apenas aos de fora do evangelho. Ele é também pouco conhecido entre aquele que se dizem cristãos. Grande parte daqueles 2,3 bilhões de pessoas é constituída de, apenas, cristãos nominais que não têm nenhum relacionamento com Deus. Nasceram em uma cultura cristã, mas nem sequer creem em Deus. Mesmo dentre os que frequentam a Igreja, muitos não o conhecem, pois estão cegos pelas camadas de tradição religiosa que sufocam o “core revelado” [1]. Estão presos à forma, à liturgia e não conseguem enxergar Deus além delas. Já, em outras comunidades, o ativismo religioso faz as pessoas pensarem que a vida espiritual consiste em frequentar eventos na Igreja. E o que dizer do culto encharcado de sensações sonoras e visuais que mantém o que adora apenas no plano sensível das emoções e impedem o enlevo espiritual? 

Há muita agitação na Igreja, mas pouco conhecimento de Deus. De acordo com Smith (2005, p.96) “no Antigo Testamento, conhecimento significa ‘comunhão’, familiaridade íntima com alguém ou algo”. Já Vriezen apud Smith (2005, p.96) afirma que o Antigo Testamento faz do “conhecimento de Deus” a primeira exigência da vida. E “Gerhard von Rad entende que o “conhecimento de Deus” significa ‘compromisso’, ‘confiança’, ‘obediência à vontade divina’[2]. A ação da Igreja deveria promover o conhecimento de Deus entre os homens, isto é, levá-los ao encontro e à vida com Deus. Ser cristão não é só ir à Igreja aos domingos, mas, antes de tudo, andar com Deus.

Por não conhecermos a Deus, não temos prazer na vida espiritual, na oração, na Palavra de Deus. Pensamos que a espiritualidade se resume a frequentar um templo, cantar hinos e ouvir sermões. Algo, muitas vezes, chato, mas que fazemos porque entendemos que é o certo a fazer. Pensamos assim porque a Igreja nos passa essa visão. A Igreja, em alguns casos, hoje, tornou-se um centro de convenções, no entanto, disse Jesus: “a minha casa será chamada casa de oração...” (Mateus 21:13). A Igreja, como já dito, deveria promover o conhecimento de Deus no mundo. Mas isso é algo que ocorre no íntimo, no coração de cada pessoa. Algo que vem de uma busca por Deus pela reflexão na Palavra e pela oração. Fica, aqui, as palavras de Oséias: “conheçamos o SENHOR; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá...”. Por esse profeta, Deus fala: “pois desejo misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos” (6:3,6).

Antônio Maia – M. Div.

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MAIA, Antônio. O Homem em Busca de Si. Reflexões Sobre a Condição Humana na Parábola do Filho Pródigo. amazon.com.br

SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005.  

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