RELIGIOSIDADE MORTA E VIDA ESPIRITUAL
A falta de uma vida íntima com Deus por meio da oração, da
reflexão em sua Palavra e da busca pela santidade pode levar o cristão à
idolatria e a transformar-se em mero frequentador de igreja, cumpridor de
rituais e servo de uma cultura eclesiástica que, por vezes, o distancia de
Deus. O profeta Jeremias mostra isso, em sua dura profecia aos seus
contemporâneos, momentos antes do Reino de Judá ser levado cativo para a
Babilônia, em 586 a.C..
Os judeus, embora vivendo longe de Deus, em pecado,
sentiam-se seguros quanto a sua salvação por causa de sua prática religiosa.
Mas Deus, pela boca do profeta, falava que seus holocaustos de nada valiam,
pois não eram acompanhados de sincero arrependimento e alegre obediência
(7.21-23). Dizia o SENHOR, por meio do profeta: “vocês pensam que pode roubar e
matar, cometer adultério e jurar falsamente, queimar incenso a Baal ... e
depois vir e permanecer perante mim neste templo, que leva o meu nome, e dizer:
estamos seguros!” (7.9).
A suntuosidade do templo despertava nos líderes religiosos
uma teologia que afirmava que Jerusalém jamais seria invadida e destruída como
fora Samaria, capital do Reino do Norte. Ele era visto como a presença do
próprio Deus, no meio de seu povo. No entanto, Deus falou: “vão agora a Siló, o
meu lugar de adoração, onde primeiro fiz uma habitação em honra ao meu nome, e
vejam o que eu fiz por causa da impiedade de Israel, o meu povo.” (7.12). O
local fora destruído junto com a cidade por volta de 1050 a.C., pelos
filisteus, algum tempo depois dos acontecimentos narrados em 1Samuel 4.
A vida religiosa de Jerusalém
acontecia, normalmente, antes de a cidade ser destruída pela Babilônia, mas o
povo estava distante de Deus. Existiam inúmeros ídolos no pátio do templo
(Ezequiel 8.3,5,6,19,12), onde também o rei Manassés colocou um poste sagrado
para adoração idólatra (2Rs13.6;21.7). As mulheres adoravam a Rainha dos Céus,
a deusa babilônica Istar (7.18) e havia, ainda, um hediondo culto pagão com
sacrifícios humanos (7.30-31). A mensagem da profecia era que eles corrigissem
suas condutas, do contrário dizia Deus: “expulsarei vocês de minha presença” e
“esta terra se tornará um deserto” (7.3,15,34).
É verdade que a profecia de Jeremias
foi para o Reino de Judá, nos séculos VI e VII a.C.. Contudo, sua mensagem
atravessa os séculos e pode ser usada em análises atuais. Assim, convém à
igreja, periodicamente, avaliar sua práxis e sua teologia tendo como referência
a Palavra divina. É preciso fugir da tentação de confundir Deus com cultura
eclesiástica e o ativismo com a espiritualidade. De igual modo, o cristão
precisa olhar para si e ver se vive na liberdade da graça divina, no amor a
Deus e ao próximo. Neste contexto, cabe lembrar que ídolo é qualquer coisa que
alguém lhe dedique amor excessivo ou admiração exagerada.
Antônio Maia – M. Div.
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