NO VÍCIO DE NÓS MESMOS
Vivemos no vício de nós mesmos. É claro que nem todos; mas muitos de nós
cristãos, sim. Ainda que conhecendo ao Senhor Jesus, vivemos na prática de
pecados aos quais nos acostumamos. Pecamos não apenas por atos e atitudes, mas
também por pensamentos. Pela imaginação, criamos um mundo onde vivemos nossos
erros e praticamos nossos pecados. É como diz Blaise Pascal: “Imaginação – eis
a parte que domina o homem, essa mestra do erro e da falsidade...” [1].
Nesse mundo interno a nós, só nosso, e para o qual não temos coragem de
convidar nossos amigos, principalmente Jesus, reina a nossa vontade. Nele,
somos como o filho pródigo que, amando mais a si, afastou-se do pai para ser
ele mesmo em uma terra distante. Nesse mundo de imaginação e fantasia somos a
expressão de nossa vontade que, em conflito com a divina, faz-nos perceber quão
verdadeiras são as palavras de Pascal, quando diz: “cada qual tem suas
fantasias, contrárias a seu próprio bem na própria ideia que tem do bem...”
[2].
É difícil falar sobre isso: o pecado na vida do cristão. Mas o Novo
Testamento está cheio de orientações para o cristão não desenvolver uma vida de
pecado. Paulo, escrevendo aos cristãos da Galácia, falou de um conflito interno
a nós. Ele disse: “...a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o
Espírito o que é contrário à carne”. Isto é, nossa natureza pecaminosa clama
pelo pecado, enquanto o Espírito, que habita em nós, pela santidade. Paulo
continua e diz: “as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza
e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira...
embriaguez, orgias e coisas semelhantes (Gálatas5.17,19).
Não podemos nos dar por presunçosos: precisamos considerar essa questão.
Blaise Pascal, em sua obra Pensamentos disse: “Há somente duas espécies de
homens: os justos que se imaginam pecadores e os pecadores que se imaginam
justos” [4]. Precisamos abandonar o pecado, pois essa é a vontade de Deus e
essa atitude demonstra nosso amor por Ele. Jesus disse: “se vocês me amam,
obedecerão aos meus mandamentos” (João 14.15). Mas como podemos vencer o pecado
e desenvolvermos uma vida santa em nós?
O Apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, nos ajuda nesse sentido. Ele
falou: “portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação de sua
mente para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.1,2).
Note que Paulo fala em nos oferecermos a Deus “em sacrifício vivo”, pois
este é o culto racional que podemos fazer a Ele. O culto a Deus, em toda a
Escritura, sempre envolve “sacrifício”. Na eucaristia, por exemplo, lembramos o
sacrifício de Jesus na cruz. Assim, de acordo com Paulo, não nos amoldarmos “ao
padrão deste mundo” é um sacrifício de vida que podemos fazer por meio da
renovação de nossa mente. Ou seja, por meio da obtenção de uma nova
mentalidade. Ou, em outras palavras, por meio do arrependimento. Fazendo isso,
poderemos experimentar e viver a vontade de Deus.
Mas isso não é algo fácil de se fazer. Por isso mesmo tem o sentido de
sacrifício, que é o verdadeiro culto que oferecemos a Deus nessa vida. O culto,
no templo é importante e constitui nossa expressão coletiva de adoração a Deus.
Mas cultuar ao Senhor vai além disso: é uma postura de vida. Por isso é preciso
que abandonemos aquele mundo interior de pecado e nos aproximemos de Deus pela
oração. Só no silêncio da oração, na presença de Deus, reunimos forças para
vencer o pecado. Na oração, junto ao Senhor, somos transformados por sua
presença e alcançamos o poder para vencer a nós mesmos e viver a vontade de
Deus.
[1], [2], [3], [4] PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Abba Press,
p.76, 82, 116, 122.
Antônio Maia – M. Div.
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