O HOMEM VIVE A SUA MORTE

O Homem Vive Nas Relações 

A vida humana ocorre nas relações. Segundo James Houston, “Deus nos criou como seres relacionais. Fomos criados para os outros, destinados a amar, a receber amor e compartilhar o amor”. “Fomos criados para os outros”. O ser humano precisa do outro para se perceber no mundo. Jesus disse que o segundo maior mandamento é “ame o seu próximo como a si mesmo”. Há uma razão para isso: estamos, de certo modo, ligados uns aos outros e precisamos do outro para sermos nós mesmos.

O filme Náufrago, estrelado por Tom Hanks, ilustra essa verdade. Hanks faz o papel de um homem que sobrevive a um acidente de avião, que cai no mar, e acaba parando em uma ilha deserta. Para se manter lúcido e consciente, ele desenha os traços de uma face humana em uma bola de vôlei e estabelece um relacionamento com ela, como se fosse uma pessoa. Quando ele a perde em alto mar, em uma tentativa de salvar-se, chora copiosamente como se tivesse perdido um amigo.

As pessoas precisam umas das outras para se identificarem e se definirem como seres no mundo. A mãe se sente mãe na pessoa do filho; o professor, no aluno; o médico, no paciente. Os seres humanos se definem nos relacionamentos. Por isso, quando o homem se afastou do seu Criador, perdeu a percepção de sua identidade de filho de Deus. Agora ele vê a si e a Deus em uma nova perspectiva porque não vive mais a vida do Éden. Vive apenas a sua morte, o fim do seu eu original.


A Morte do Eu Original 

Após a inédita decisão de Adão, configurou-se o que Deus havia lhe advertido: a sua morte. Novas atitudes se incorporam à vida do primeiro homem. Passou a ter medo de Deus e afastar-se dele. Agora tem vergonha de si, sente-se culpado, mas se desculpa no outro (Gênesis 3.8-12). Aquele Adão morreu. 

O filho pródigo, de igual modo, morreu ao decidir por uma vida autônoma, rompendo as relações com o seu pai. Aquele jovem distinto e importante, que gozava do status de filho, tornou-se outro ser. Não se encontra apenas distante de casa, mas também de si, esbanjando suas posses até tornar-se um miserável, que deseja alimentar-se da comida dos porcos de que cuida.

A parábola do "filho pródigo" e Gênesis 3 mostram que a quebra de relacionamentos gera a morte. O filho mais novo e Adão romperam relacionamentos que os definiam como seres originais. Tais relações os ligavam às suas origens e os mantinham vivos, conforme concebidos.

Agora, eles estão desconectados daqueles que lhes deram a vida. Resta-lhes apenas viver a morte, pois a criatura, por seus esforços, não consegue religar-se àquele que o criou. Tal impossibilidade deriva da mudança que ocorreu em sua natureza pessoal. O novo ser é incompetente para retornar à condição anterior.

Quando os relacionamentos acabam, sobra quase nada para viver, pois o ser humano foi criado para a comunhão com o outro. Uma vez rompidos, vem a morte, visto que a vida acontece nas relações interpessoais. A felicidade surge quando as pessoas desfrutam do convívio com outras em relações fraternas, amorosas e amistosas. Após a Queda, porém, apareceram novos tipos de relações, tais como inveja, ciúme, competição que pouco contribuem para a vida de comunhão.

Por isso, observa-se que, quando, nas relações, um agride e ofende o outro, e essa atitude se consolida em uma nova postura de vida, ocorre, então, a morte do relacionamento. Ambos, de certo modo, morrem um para o outro e para si mesmos, uma vez que o homem precisa do outro para se definir como pessoa. Por essa razão, o ato de Adão, no Éden, lançou ele para distante de Deus e de si próprio.
Antônio Maia - M. Div
Direitos autorais reservados na Biblioteca Nacional-RJ
Este texto é um extrato de nosso livro O Homem em Busca de Si - Reflexões Sobre a Condição Humana na Parábola do Filho Pródigo. 
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