A REVELAÇÃO APRISIONADA
É verdade que Deus, o Criador, se revelou a Israel e a nenhuma outra
nação. Esse fato é motivo de honra. Ser o povo por meio do qual a Revelação
divina entrou no mundo é algo sublime. Sim, Israel é o “tesouro pessoal” de
Deus (Êxodo19.5), não porque é melhor que as outras nações, mas porque Ele quis
assim, isto é, por sua graça e seu amor por esse povo. Tanto que Moisés disse
que Deus daria a Israel “uma posição de glória, fama e honra muito acima de
todas as nações” (Deuteronômio26.19). Não em um sentido secular, mas
espiritual: “vocês serão para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa”
(Êxodo19.6).
Mas eles não entenderam assim essa palavra de Moisés e se secularizaram.
Tiraram os olhos de Deus e passaram a olhar as outras nações, desejando ser
como elas. Rejeitando a teocracia, pediram um rei, uma monarquia. O Profeta
Samuel se entristeceu, mas Deus disse a ele: “atenda a tudo o que o povo está
lhe pedindo; não foi a você que rejeitaram; foi a mim que rejeitaram como
rei... abandonando-me e prestando culto a outros deuses” (1Samuel8.4-8). Então
Israel se estruturou como os outros povos inclusive no aspecto religioso.
Transformaram a Revelação em uma religião, cujo centro era a vida do
templo, erguido por Salomão. Pensaram que podiam domesticar Yahweh para ser seu
Deus particular, limitando-o às suas interpretações. Mas o Senhor não o
consentiu, tanto que permitiu que o templo fosse destruído duas vezes e que,
sobre suas ruínas, fosse erguida uma mesquita muçulmana. O próprio Jesus
dedicou todo o seu ministério a um processo de desconstrução dessa
religiosidade. Em vez de irem às nações anunciar Yahweh, fecharam-se em si
mesmos.
Essa ideia de tomar para si a Revelação, e não a compartilhar com outros
povos, tornou-se tão forte, em Israel, que arqueólogos encontraram nas ruínas
do templo, no muro que separava o pátio das mulheres da área onde ficavam os
gentios (não judeus), duas ocorrências da seguinte inscrição: “nenhum
estrangeiro deve entrar no pátio nem passar pela balaustrada ao redor do
santuário. Quem for pego será culpado por sua morte subsequente”[1]. O gentio
era impedido de entrar no templo para cultuar. Mas Deus se preocupa com todas
as nações, tanto que orientou Pedro para evangelizar o capitão romano Cornélio
e Jesus não negou um milagre a uma mulher cananita e, ainda, orientou os
discípulos a levarem o evangelho até aos confins da terra (Mateus 24:14; Atos
1:8).
Não há nenhum problema com templos, nem com rituais desde que não os
idolatremos. Deus permitiu a construção do templo de Jerusalém e orientou
quanto à liturgia do culto. Mas essas coisas são apenas representações externas
da fé. Nossa devoção a elas não pode ser maior do que a Deus. O Apóstolo Paulo,
escrevendo aos Coríntios, disse que nós é que somos o templo do Espírito Santo
(1Coríntios6.19). Precisamos construir um altar a Deus em nossos corações e
mentes de modo que nossa vida seja um culto constante a Ele. Assim, seremos,
como Jesus disse, luz nas trevas e sal no mundo (Mateus5.13,14).
A experiência de Israel é parecida com a do profeta Jonas que, sendo
comissionado por Deus a ir à Nínive para pregar a salvação divina, não obedeceu
e tomou outro destino. Mas Deus permitiu que ele passasse por adversidades e
depois o conduziu até aquela cidade, onde anunciou o Senhor e toda a Nínive se
converteu. A nação israelita, hoje, está distante de Deus, mas o Senhor não a
rejeitou. O Apóstolo Paulo falou que chegará um tempo em que todo o Israel será
salvo (Romanos11.26). Assim, Israel, o povo eleito, estará na linha de frente
da luta espiritual, na Grande Tribulação, honrando a Deus com o seu testemunho
e o seu sacrifício, assim como multidões de todos os povos, tribos, línguas e
nações que se renderam a Deus, isto é, a Igreja (Apocalipse7).
Antônio Maia - M. Div.
Direitos autorais reservados
SCOTT. J. Julius. Origens Judaicas do Novo Testamento. Um Estudo do
Judaísmo Intertestamentário. Shedd Publicações, 2017 p.51
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