OS DIAS DA CRIAÇÃO
Voltamos a tratar desse tema devido a sua importância na construção de
bases sólidas para a fé cristã. A leitura deste texto, junto com “Compreendendo
Gênesis 1”, proporciona uma boa reflexão sobre a questão das origens. Outra
razão é que é natural o leitor iniciante da Bíblia ir ao texto bíblico com as
lentes da sociedade científica e tecnológica em que vive. Por essa razão lhe
espanta as afirmações de que Deus criou o universo em apenas seis dias e que a
luz foi criada, logo no primeiro, sendo que os luminares que a irradiam só
surgiram no quarto (Gênesis1). Como entender essas afirmações?
Muitos já apresentaram soluções à essas questões. Uma delas mostra o
esforço de interpretação alinhado à ciência. É o caso dos que afirmam que os
dias de Gênesis seriam períodos de tempos equivalentes às eras geológicas.
Nessa linha, é possível dizer que a luz do primeiro dia seria decorrente da
explosão inicial de que fala a teoria do “big bang”, sobre a origem do mundo.
Mas esse caminho não apresenta sustentação escriturística. Também, é importante
ressaltar que a teoria do “big bang” é frágil em seu propósito. Só explica bem
a condição atual do universo: sua expansão. Não apresenta explicação racional
para as condições originais do cosmo.
Existe, ainda, por parte de muitos, uma fixação de que os dias de
Gênesis 1 seriam de 24 horas, como conhecemos hoje. É o esforço da linha de
interpretação literal da Bíblia. No entanto, nem tudo, no texto bíblico, pode
ser tomado literalmente. É claro que Deus poderia ter criado tudo em apenas
seis dias. Ele é Deus. Mas é pouco provável que os dias da primeira página da
Bíblia sejam como conhecemos hoje. Wenham (2009, p. 101), em seu comentário
sobre esse texto bíblico, observa que essa palavra “dia” se refere a períodos
de tempo relativos à atividade do Criador e não humana. Assim, ele considera
pouco provável que sejam dias de 24 horas [1].
É compreensível essa preocupação em entender esse texto das Escrituras,
pois ele está na base de toda a cosmovisão cristã. O ser humano percebe a
existência, a realidade, a partir dos planos “tempo” e “espaço”. Logo, é
natural que ele queira entender como e quando tudo começou. Também é preciso
ser realistas e reconhecer que a linha de interpretação alinhada à Ciência, bem
como a que busca a literalidade do texto, não respondem, satisfatoriamente, à
questão. Então, qual seria um caminho viável para entender esse problema?
Gênesis 1 não constitui um texto científico. Muitos estudiosos entendem
que esse primeiro capítulo da Bíblia foi escrito dentro do estilo literário da
poesia hebraica, que se caracteriza pela repetição e paralelismo de ideias.
Veja, por exemplo, esses aspectos em Gênesis 1:27: “Criou Deus o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Observe como a
mesma ideia é dita três vezes. Outra evidência de que esse texto é pura poesia
pode ser vista expressão “passaram-se a tarde e a manhã”, que fecha a descrição
de cada dia da criação.
O próprio texto de Gênesis 1, como um todo, se revela estruturado em um
paralelismo. Os dias não são descritos dentro de uma linearidade, mas em
paralelo. Os três primeiros se relacionam, respectivamente, com os três
últimos. A luz é criada no primeiro dia, mas os luminares, que a irradiam, só
são criados no quarto. O firmamento e as águas que surgem no segundo dia, só
recebem os seres, que neles habitam, no quinto. O mesmo ocorre como o terceiro
e o sexto dia. Então Gênesis 1 não pode ser tratado como um texto científico,
mas como um texto teológico, escrito no estilo poético que afirma Deus como
criador do universo.
O autor não está interessado em explicar como Deus criou o mundo, mas em
declarar que Ele o criou. E essa verdade precisa ser recebida pela fé, pois
“sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer
que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam” (Hebreus 11:60). É claro
que o ser humano caído, separado de Deus, rejeita receber tão importante
verdade pela fé. Ele quer explicações, provas, comprovações, pois se entende
como estando no controle de tudo. Por isso mesmo Deus determinou ao homem o
caminho da fé para se chegar à Verdade, isto é, a Ele.
Antônio Maia – M. Div
Direitos autorais reservados
WENHAM, G.J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo. Ed Vida Nova,
2009.